dos sonhos que se derramam para a realidade.
ela desce as escadas cantando um-dois-três quatro-cinco-seis sete-oito-nove para-doze-faltam-três. no primeiro lance, a canção começa lenta e ela saltita despretensiosa. a voz ecoa por entre os corredores escuros do prédio antigo. no segundo, a voz se acelera e os pulos parecem os de um coelho de olhos vermelhos. um-dois-três quatro-cinco-seis sete-oito-nove para-doze-faltam-três. no terceiro, ela nem percebe, as paredes começam a derreter. delas saem mãos que tentam agarrar seu pescoço. um-dois-três quatro-cinco-seis sete-oito-nove para-doze-faltam-três. ela desce as escadas como quem gira em um carrossel desgovernado. a canção ecoando no prédio. paredes derretendo. mãos buscando um pescoço. cheiro de morte nos olhos vermelhos do coelho. um-dois-três quatro-cinco-seis sete-oito-nove para-doze-faltam-três. ao fim de cada lance ela dá um salto que faz estremecer todas as louças de todos os apartamentos que ela deixou para trás. um-dois-três quatro-cinco-seis sete-oito-nove para-doze-faltam-três. as paredes agora é toda mãos. as louças espatifadas compõem a canção. as janelinhas que iluminam a escadaria são bocas que cospem fogo. o chão começa a rachar. o prédio inteiro sucumbe nas costas da coelhinha cantora. um-dois-três quatro-cinco-seis sete-oito-nove para-doze-faltam-três. aqui a cena se repete com o carrossel girando cada vez mais rápido e justamente quando pensamos que ela nunca cessará de descer as es ca das para-doze-faltam-três. o pulo final desemboca na calçada. ela ajeita a fita no cabelo. passa a mão na saia azul e sorri diabólica pra você.

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